quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Meus Pais se separaram, e agora?



Um belo [belo???] dia, seus pais chegam prá você e dizem: 'Pois é, filho, a gente pensou muito e resolveu se separar'. De início, não cai a ficha. Você não tem muita noção do que realmente está acontecendo, afinal, eles estão ali, diante de você e são seus pais! Tudo bem, você tem amigos com pais separados, mas, os seus? Os seus, não!
'E agora? Com quem vou morar? Quem vai dizer se posso sair? Quem me levará ao médico se eu adoecer?' Estas são perguntas, entre tantas, que passam na cabeça do filho quando ocorre a separação dos pais.
Até chegar ao ponto de uma separação física dos pais, ocorreu, anteriormente, uma separação emocional, muitas vezes, com desentendimentos sérios, desencontros e agressões físicas ou não. E, mesmo percebendo a infelicidade dos pais, o clima tenso em casa, a separação é sempre um impacto doloroso e profundo que, certamente, deixará marcas.
Adaptar-se idéia de não viver mais com o pai e a mãe sob o mesmo teto exige tempo. O filho, principalmente, quando é muito pequeno, demora a entender que os pais se separaram, mas, que não deixaram de ser seus pais. E, muitas vezes, os próprios pais contribuem para esse sentimento de perda, especialmente com perguntas tipo: ' Com quem você quer ficar, com o papai, ou com a mamãe? De quem você gosta mais, do papai, ou da mamãe?' E por ai vai...
O modo como cada um se ajustará na separação, depende diretamente de como os pais lidam com o fato e, especialmente, do amor entre eles [pais e filhos]. Parece simples, básico, afinal, o amor entre pais e filhos é natural, mas, nada acontece linearmente; a vida das pessoas não é rígida como uma equação matemática e, muitas vezes, quando ocorre a separação, a situação se apresenta totalmente diferente da que se esperava.
O fim da união de um casal que tem filhos, dá início a um outro tipo de relacionamento: o de pais separados. A grande confusão na cabeça dos filhos ocorre quando os pais misturam as figuras de marido e mulher com as de pai e mãe. Na realidade, eles nunca deixarão de ser pai e mãe desse filho e, por isso, precisam se unir para construir uma base firme, de carinho e valores para os filhos. Estes, precisam se sentir amados; sentir que não perderam o pai [ou a mãe] que saiu de casa; precisam ter a certeza que a ligação do filho com pai e mãe é mesmo até que a morte os separe!
A separação e suas conseqüências, necessariamente, não determinam que haverá prejuízos para os filhos, entretanto, a culpa que os pais carregam, sim! Essa culpa torna-se um fardo muito grande para uma criança carregar, porque ela percebe e sente a insatisfação e insegurança que seus pais estão mergulhados e, assim, a culpa dos filhos começa a ser alimentada, afinal, a criança acha que tudo gira ao seu redor e, portanto, as brigas dos pais têm a ver com ela.
A fim de preservar emocionalmente seus filhos, os pais têm que ter consciência de que são responsáveis pelo bem-estar deles, mesmo separados, pois os filhos dependem de pai e mãe e se formam através deles.
'Meus pais se separaram! E agora?' Agora, a situação muda, porque uma separação implica em perdas, mas, é preciso observar que, também há ganhos, afinal, como foi dito, até chegar à separação, muita coisa aconteceu e, certamente, coisas bem desagradáveis para todos. Quem sabe, agora, tudo aconteça de forma mais serena, sem tantos conflitos...
Ana Lúcia Cananéapsicóloga clínica – CRP 1124

Nenhum comentário: